domingo, 24 de setembro de 2017

Polícia veio para ficar na Rocinha, diz governador do Rio...em 2011

Quem aí não se lembra dos policiais do Bope estendo a bandeira brasileira no alto das favelas depois de cada ocupação antes da entrada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas comunidades cariocas?

Quem aí se esqueceu de repórteres tendo orgasmos com cada blindado entrando em preparação para uma nova "pacificação"?

E das autoridades se gabando que tinham acabado com o jugo do tráfico e trazido paz duradoura para os moradores das comunidades-alvo das ocupações policiais.

Toda vez que vejo a imprensa exigindo a ocupação de favelas, toda vez que eu vejo o espetáculo das operações policiais (e principalmente das ações militares), toda vez que eu ouço uma autoridade prometendo a permanência da polícia nessas comunidades, eu me lembro dessa época.

Foi uma época de pseudo-sonhos, que se estendeu de 2008 a mais ou menos 2012. Um período em que a imprensa e a sociedade acreditaram cegamente na utopia de um governo que prometeu acabar com o controle territorial armado do Rio de Janeiro.

Mas na verdade eu não lembro apenas dessa época, eu me lembro das operações pré-Jogos Panamericanos 2007, eu me lembro das ações dos governos Rosinha, Benedita, Garotinho, Marcelo Alencar (eu não lembro nada de Moreira Franco, porque eu era muito criança)...

O modelo entra, ocupa, ilude a população e sai da favela não é novo. Mas é surpreendente como a imprensa, a sociedade e os governos insistem nesse modelo fracassado, seja de operações com duração de poucas horas seja com pseudo-ocupações de vários meses (ou anos no caso das UPPs).

Toda vez que surge uma "onda de violência", uma imprensa torpe exige uma ação contundente da polícia. E, se a polícia não é espetacular ou "contundente" (leia-se: não mata, prende e apreende o suficiente), a solução é chamar o Exército.

Pouco importa o resultado prático disso. Pouco importa se os últimos 30 anos demonstraram que ocupações duradouras ou escaramuças esporádicas de forças policiais/armadas não tiveram qualquer impacto no modelo de criminalidade armada no Rio de Janeiro.

Foi aliás, esse paradigma de ocupação territorial como resposta para ocupação territorial que deu origem à mais nefasta modalidade criminosa do Rio de Janeiro: as milícias. Policiais e ex-policiais crentes nesse modelo decidiram acabar com o tráfico em suas comunidades ocupando eles mesmos as favelas.

Enquanto acreditarmos que a ocupação territorial é a solução para nossos problemas (e sabemos pela história da humanidade que ocupações por estrangeiros/estranhos não funcionam), não vamos atacar os principais problemas que alimentam o controle territorial armado ilegal no Rio.

E que problemas são esses? A corrupção policial, a falta de recursos investigativos, a falta de atenção aos esquemas de atacado da droga, os olhos fechados para os fornecedores de armas (e esqueça um pouco os esquemas transnacionais de tráfico de armas, estou falando aqui também de policiais, colecionadores de armas, firmas de segurança, cidadãos de bem que têm porte de arma e as desviam para os criminosos), a legislação linha-dura contra a venda e consumo de drogas, apenas para citar alguns.

Em 2011, ouvimos o ex-governador (e agora presidiário) Sérgio Cabral dizer que a polícia chegou à Rocinha para ficar. Seis anos depois, ouvimos seu sucessor (e na época vice-governador) Luiz Fernando Pezão repetir o mesmo mantra.

Quem aí duvida que daqui a seis anos ouviremos o próximo governador falar a mesma coisa?


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